Com a intenção de celebrar um momento especial da minha
relação com meu filho e de aproveitar o recente interesse dele pelo esporte,
decidimos ir a um estádio de futebol a fim de assistirmos a uma partida, evento
simples e corriqueiro para as tardes de domingo de milhares de pessoas do nosso
país. Decisão tomada, preparei-me para desfrutar cada processo de forma segura
e organizada.
O inicio da jornada... Com três dias de antecedência fui
ao local do jogo para comprar os ingressos. Pensando em experiências passadas,
esperava ser abordado por um “cambista” (confesso que não consigo imaginar uma
atividade mais oportunista do que essa), pois bem, fui abordado! Após alguma
negociação para que ele apenas deixasse que eu prosseguisse meu caminho,
respirei fundo, acelerei a passada e cheguei até a bilheteria onde letras
garrafais informavam que os ingressos estavam ESGOTADOS! Restavam apenas os
setores mais caros na grande platéia, mas como o desejo era realmente
participar do evento, pedi ao colaborador que estava sentado dentro de uma
minúscula gaiola dois ingressos enquanto entregava-lhe o cartão, no mesmo
instante o processo foi interrompido, pois o pagamento só poderia ser realizado
em dinheiro e como faço parte dos mais de 70% dos brasileiros que utilizam
cartões, tive que sair da fila e procurar um banco para realizar a retirada das
notas. Voltei para a mesma gaiola com as cédulas nas mãos e após algumas quedas
do sistema, finalmente os tickets!! Ao sair deparei-me com um grupo de
estudantes estrangeiros em um processo penoso de tentativa de compra dos mesmos
ingressos, notei tamanho descaso, tamanha falta de interesse e até de
generosidade com o ser humano dos atendentes que prendi a respiração, abaixei a
cabeça e escapei sorrateiramente. Por fim notei que finalizaram a compra.
O grande dia... Programei-me para chegar ao campo com
duas horas de antecedência, perfeito se durante o percurso não tivesse
presenciado um verdadeiro esquema de guerra montado pelos policias, viaturas,
verdadeiros tanques de guerra escoltavam alguns ônibus de ensandecidos
torcedores, com seus corpos pendurados, aos berros dos mais esdrúxulos
palavrões... foi quando, pela primeira vez, a excitação do evento tornou-se
medo e ouvi do meu filho: “pois é pai... o clima é meio pesado.” Seguimos. O
próximo desafio foi encontrar um local seguro para estacionarmos, talvez tão
oportunistas quanto os cambistas são os “guardadores de carro” conhecidos por
aqui como “flanelinhas” pois bem, dez reais para deixar o carro na rua e a uma
distancia de aproximadamente um quilometro da entrada do estádio. Caminhamos
trocando frases entusiasmadas sobre o evento que nos esperava, ora era remetido
a um passado encantador, ora vislumbrava um futuro brilhante, meu pequeno é
demais!! Assim foi o nosso caminho...
Dia claro, temperatura agradável, gramado perfeito,
cenário ideal para uma partida de futebol.
Ainda na intenção de manter as coisas sob o maior
controle e segurança possíveis, procurei um colaborador do evento a fim de
certificar-me que o assento comprado estaria disponível para que eu o
utilizasse...
Adivinhem a resposta: “teoricamente sim...” com um tom
que beirava ao deboche. Dito e feito, haviam pessoas sentadas nos assentos que
“teoricamente” deveriam ser meus naquele evento. Complacentes sentamos-nos ao
lado. O primeiro picolé (o valor é o dobro do praticado no mercado) e aquele
grupo de estudantes estrangeiros aproximou-se cuidadosamente, pés unidos,
ingressos nas mãos, cabeça levemente inclinada a frente, quase que em sinal de
reverencia para mostrar ao cidadão do meu lado que “teoricamente” aquele e os
próximos dez assentos enfileirados seriam deles... Surpresa? Nenhuma... após
ouvir do companheiro ao lado que as reservas não importavam. Os perdi de vista
e não sei de onde acompanharam o espetáculo.
Final de jogo, o que menos importou foi o resultado, se
houve um vencedor, não sei. Para evitar as aglomerações do final, decidimos
deixar o estádio de forma acelerada. Caminho de volta e algumas conversas,
agora a dúvida foi nossa guia. Dez minutos de caminhada e estamos no carro,
aciono o alarme e como resposta ouço uma voz “tio!
Me dá cinco reais cuidei do seu carro...” Meu pequeno
lançou-me um olhar tão profundo, quase sedento ou meio temente talvez,
fugidio...
Como perguntando... Pai? Não teremos aqui em 2014 a maior
competição esportiva do planeta?
Marcio Marega
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